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30 de jul. de 2014

Polícia conclui inquérito sobre morte de paraquedista atropelado por avião em Boituva

Acidente aéreo ocorreu em 9 de julho de 2012, em Boituva(SP).
Vítima foi atingida por asa da aeronave; piloto responde por homicídio.
Caio Gomes Silveira e Gláucia SouzaDo G1 Itapetininga e Região

O inquérito sobre o acidente aéreo que causou a morte do paraquedista Alex Adelmann, em Boituva (SP), foi concluído. Em entrevista ao G1, o delegado assistente do município e responsável pelo inquérito, Silvan Renosto, afirma que o processo deve ser enviado até o fim deste mês ao Fórum da cidade. O piloto da aeronave, Douglas Leonardo de Oliveira, foi indiciado e responde na Justiça por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. "Ele responde por homicídio culposo devido à imperícia tanto dele quanto do paraquedista, já que o piloto não viu que Alex estava junto com os outros dois paraquedista. A vítima, por outro lado, não havia avisado o piloto que iria pular sem um equipamento que diminui a velocidade em queda livre. Em depoimento, o piloto afirmou que não sabia da manobra e achou que seria um salto comum."

Alex Adelmann morreu atropelado por avião durante
salto em Boituva (Foto: Reprodução/ Rede Globo)


O acidente completou dois anos este mês. A vítima foi atropelada pelo avião durante um salto em 9 de julho de 2012. O rapaz, que tinha 33 anos, morreu devido a um traumatismo craniano. Outros dois paraquedistas que faziam um salto duplo também foram atingidos e sofreram fraturas nas pernas (veja o vídeo do salto acima).
Em fevereiro deste ano, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) divulgou o laudo da investigação realizada depois do acidente. De acordo com o relatório, de 19 páginas, as três vítimas atropeladas pelo avião compunham o segundo grupo de paraquedistas daquele voo, o 11° do dia. O salto foi realizado a uma altura de aproximadamente 3,7 mil metros.
O documento da Cenipa aponta ainda que o piloto estava com alguns documentos atrasados, e que diversos aspectos contribuíram para a colisão. O objetivo do relatório é recomendar o estudo e o estabelecimento de prevenções ao Centro Nacional de Paraquedismo de Boituva.

Piloto Douglas de Oliveira responde por homicídio
culposo (Foto: Reprodução Rede Globo)

O piloto Douglas de Oliveira estava com o Certificado Médico Aeronáutico (CMA) e o Certificado de Habilitação Técnica (CHT) vencidos. Entre os fatores que contribuíram estão falta de atenção do piloto para onde estariam os paraquedistas, atitude de excesso de confiança com possibilidade de exibicionismo, descaso com as habilitações atrasadas, falta de comunicação e de supervisão gerencial, já que não existia normas claras sobre a proximidade das aeronaves com os paraquedistas.
De acordo com o advogado do acusado, Mauro Otávio Nacif, a primeira medida de defesa será fazer o pedido de alteração de um Fórum Estadual para um Federal. "Ao meu ver o Douglas é inocente porque não foi avisado pelos paraquedistas das manobras que iriam realizar. Então tudo trata-se de uma fatalidade. Vamos providenciar é a mudança do inquérito para o Fórum Federal de Sorocaba, pois, com base no artigo 109 da Constituição Federal, todo crime ocorrido no espaço áereo ou marítimo deve ser julgado por órgão federal e não estadual. Os documentos atrasados, como questão administrativa, geram multa mas não podem ser impostos como pena em prisão. Discordo da conclusão do estudo do Cenipa que aponta excesso de confiaça e falta de atenção do piloto, ele havia feito dezenas de saltos e em nenhum deles ocorreu algum problema, somente quando houve falha na comunicação é que o acidente aconteceu."
Durante o trajeto, cerca de dez segundos após o salto de Aldemann, a asa esquerda do avião bateu na nuca da vítima a uma velocidade estimada de 270 km/h. Segundos depois do primeiro choque, a vítima se chocou com os outros dois paraquedistas. A Cenipa aponta que o avião também pode ter batido na dupla.Entenda o caso
Alex Aldemann saltou antes dos outros paraquedistas que iriam fazer manobras acoplados. O objetivo dele era filmar os movimentos da dupla. Depois que o grupo pulou do avião, o piloto da aeronave realizou a manobra de mergulho, apontado o nariz do avião solo e em seguida fazendo uma curva a esquerda para passar embaixo dos paraquedista. A intenção, segundo o documento, era de fazer uma manobra radical tanto quanto o esporte praticado pelos paraquedistas e pousar a aeronave em menor tempo. “Tanto as regras de autoridade de avião civil brasileira, como as esportivas, não disciplinavam a questão relativa à aproximação das aeronaves como risco a ser evitado”, afirma o documento.
De acordo com a Cenipa, Aldemann ficou inconsciente após a batida e o paraquedas dele foi acionado automaticamente a 750 pés de altura. A câmera presa ao capacete dele se soltou e filmou boa parte da ação. Já as outras vítimas acionaram o paraquedas e pararam no solo com graves fraturas nos membros inferiores. Todos foram socorridos, mas Aldemann não resistiu aos ferimentos.
Mergulho de avião após saltos é comum, diz Cenipa
(Foto: Reprodução/ Cenipa)


O documento aponta que os paraquedistas envolvidos no acidente não utilizavam o aparelho chamado drogue – um pequeno paraquedas usado antes do principal para diminuir a velocidade em queda livre. A intenção deles era treinar caso o drogue falhasse. Com a falta do aparelho, a velocidade da queda dos esportistas se tornou maior que o habitual. Essa diferença, segundo o relatório, foi fundamental para o erro de cálculo do piloto.
Em depoimento à polícia, Douglas de Oliveira contou que sentiu um impacto na asa durante o trajeto. A aeronave teve três danos estruturais, porém não teve as características de voo significativamente alteradas depois do impacto. Oliveira foi comunicado sobre o acidente só depois de pousar.
Recomendações
Para evitar novos acidentes como o ocorrido em 2012, a Cenipa orientou cinco Recomendações de Segurança de Voo (RSV) à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e quatro RSV ao Centro Nacional de Paraquedismo (CNP). Entre as recomendações à Anac estão reavaliar a fiscalização da atividade do paraquedismo, reavaliar a necessidade de comunicação detalhada entre tripulantes e paraquedistas – aspectos, como por exemplo, de normas de separação entre aeronave e paraquedista. Ao CNP, a Cenipa orienta a reavaliar o modo de operação do Centro, estabelecendo padrões de segurança rigorosos observando a legislação internacional já consagrada para o esporte.

Asa do avião atingiu a nuca de Alex Adelmann a
270km/h, diz Cenipa (Foto: Reprodução/ TV Tem)

Uma mudança já ocorrida no CNP foi a elaboração de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que visa, dentre outras medidas, a proibição de mergulho de aeronaves atrás dos paraquedistas. O documento foi assinado pelas 18 empresas que compõem o centro, e registrado no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Sobre as mudanças sugeridas, a Anac informou, por meio de nota, que o documento com as orientações enviado pela Cenipa foi protocolado em 15 de julho. No entanto, segundo a Anac, o processo ainda precisa ser distribuído para a gerência responsável. Assim que recebido pela gerência, a Anac irá analisar a documentação e encaminhar as orientações às áreas responsáveis para aplicação das mudanças.

O presidente do CNP, Nilson Pereira, classifica o episódio como fatalidade. "Foi uma fatalidade, mas nem por isso vamos ignorar o caso. Pelo contrário, procuramos melhorar a comunicação com os pilotos. Intensificamos muito mais a fonia de um avião com o outro conversando a saída mais coordenada dos atletas da aeronave com o piloto. Então, realmente melhorou muito. Tanto que não tivemos de lá para cá, nem perto, um acidente ou incidente desse gênero", diz.
Documento analisa colisão entre avião e paraquedista (Foto: Reprodução/ Cenipa)

http://g1.globo.com/sao-paulo/itapetininga-regiao/

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